Thursday, March 01, 2007

Ser mulher

“Coloque um espelho no meio do meu caminho entre a lavanderia, o supermercado, o sapateiro, o colégio e a locadora. E que, ao me olhar, eu goste do que veja. Não deixe que eu passe uma semana sem usar um batom bem vermelho, uma bota bem alta ou um jeans bem justo. Que nunca falte em minha vida comédias românticas e boas depiladoras. Para cada dia de TPM, me dê uma vitrine de sapatos lindos. Me dê saúde, tempo livre, silêncio e um dermatologista de confiança. Dê firmeza para os meus seios e para os meus argumentos. Afaste os homens que não elogiam e os que buzinam antes de abrir o sinal. Ilumine o espelho do banheiro e proteja minhas pinças, cremes e segredos. Faça com que eu siga minha dieta e minha intuição. No meio de tudo isso, faça com que eu ache tempo pra virar namorada de novo, ir ao cinema, jantar fora e por mais complicado que seja meu dia, faça com que ele termine. E não eu.”

MULHERES DO BRASIL. São Paulo: Ed. Abril,Edição Especial. Carta da Editora.

Monday, February 19, 2007

Por sinal, este mexicano aqui é o meu pai.




Saturday, February 17, 2007

Do que se aprende

Hoje meu pai disse assim:
"Meu pai disse uma vez para mim, e eu só entendi a verdade disso depois de muito tempo: 'Às vezes até se consegue ser feliz. Mas é difícil.'"
Falávamos sobre trabalho, família, amigos, amores.

Friday, February 09, 2007

Das frases ouvidas sem querer

Duas que ouvi esta semana:

De um senhor para uma senhora:
"Não só de comida véve o homem e a mulér."

De um jovem contemplativo:
"No carnaval passado, me fantasiei de mulher. Três caras chegaram em mim de verdade... Pelo menos eu sei que tenho opção!"

E a sentença clássica, inesquecível, de um bêbado para muitos:
"Minha mulé tentô me matá hoje. (pausa) Ainda bem que foi com uma faca de pão e não uma faca de caune."

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Wednesday, February 07, 2007

FICÇÃO no 1

Sempre tive uma espécie de certeza – ou desconfiança – em ser algo de muito importante que viero ao mundo. Quando criança, esforçava-me para ter o melhor e mais incomum desempenho. Me sentia diferente dos outras crianças e ansiava pelo dia em que todos notassem essa singularidade em meu ser. Minha família, muito católica, repetia que todos somos filhos de Deus; enquanto eu procurava, em vão, algum parentesco sagrado, algum poder sobrenatural, algum dom genuíno.
Cresci, e quis ser excelência em minha profissão; a liderança, a glória. Sempre o melhor, sempre me nivelei por cima. Não é de se estranhar o estado que hoje me encontro. De cima, transportei-me para baixo, para o convés dos espíritos pecadores, o âmago dos maus pensamentos e desventuras em vida. Aqui, no calabouço das amarguras humanas, pude, finalmente, tornar-me líder supremo.

Monday, January 29, 2007

Dos parênteses iluminados

"No séc. XVIII viveu na França um homem que pertencia à galeria das mais geniais e detestáveis figuras daquele século nada pobre em figuras geniais e detestáveis. A sua história é contada aqui. Ele se chamava Jean-Baptiste Grenouille e se, ao contrário dos nomes de outros geniais monstros como, digamos, Sade, Saint-Just, Fouché, Bonaparte, etc., o seu nome caiu hoje no esquecimento. Isto certamente não ocorreu porque Grenouille tenha ficado atrás desses homens das trevas mais famosos em termos de arrogância, desprezo à raça humana, imoralidade, ou seja, em impiedade, mas porque o seu gênio e a sua única ambição se concentravam numa área que não deixa rastros na história: o fugaz reino dos perfumes."

(O Perfume - História de um Assassino, 1985)

Agora não está mais esquecido! Finalmente saiu o filme d'O Perfume. Um filme? Não, não é só um filme; é a representação visual aproximada de tudo que se esperava de um livro sobre perfumes. E, bom, de visual, eles entendem.
Não o vi ainda, pois moro em Florianópolis, e isso significa que provavelmente chegará antes em dvd do que no cinema. Portanto, sem críticas ao filme em si. Mas quanto ao livro, ele conquista na primeira página. E mantém o mesmo primor de escrita durante as próximas 200 e poucas.

O autor, Patrick Süskind, é alemão, vive em Munique e não dá entrevistas. Escreveu mais alguns contos, novelas e teatros. Não faço idéia do que ele pensa sobre O Perfume, sua obra-prima, super aclamada. Mas tenho a impressão que Grenouille o assombra em sonhos...

Süskind só peca em uma coisa: ter escrito A Pomba. Quase perdi meu respeito por ele. Mas pelo menos a capa do livro é uma pintura do Magritte. E eu queria que existisse uma capa d'O Perfume, pode ser edição comemorativa mesmo, com obra do Caravaggio. Combina...

Agora é esperar chegar em dvd! Aceito doações de pôsters!


Encontrado em: http://www.parfum.film.de

Monday, January 22, 2007

Dos bairrismos redundantes

Minha constatação de hoje é que toda música bairrista é repetitiva e irritante.

Li semana passada O País do Carnaval, de Jorge Amado – inclusive, um cara notoriamente bairrista – e isso me levou a prestar atenção em uma cantoria do rádio que ia assim: “São Salvador, Bahia de São Salvador...” e até cheguei a desejar ter ouvido desde o começo a tal musiquinha, que tinha um ritmo frenético como qualquer escola de samba e uma intérprete competente.

Ledo engano! A música não tinha começo nem fim! Era simplesmente a repetição dessa frase, em diferentes tons; apenas isso, com algumas variações sobre o Senhor do Bonfim ou o negro e o mulato.

É como outra música, sobre São Paulo, que não diz nada além de “São Paulo, meu amor”.

Alguém já ouviu essa? Tomara que não...